Oscilante

Texto selecionado na Open-Call de Escrita SLASH FORWARD />> (2021) da Mákina de Cena.

Lau,

Vou directa ao assunto: gostava de te conhecer. Pergunto-me se encontraste o teu sítio, a tua voz. Assumo-te com vida porque prefiro escrever-te assim. O oposto significaria a impossibilidade de nos encontrarmos no espaço-tempo para o qual me projecto ao escrever esta carta. O oposto significaria a percepção do nosso desaparecimento: dois pássaros num voo perfeitamente sincronizado para a morte. Ultimamente, mais do que nunca, ela é omnipresente. Chegou a nossa vez de vestir a bata e encontrar mecanismos para lidar com o irremediável. O nosso corpo, como tantos outros, está carregado de História. Viver não é imparcial e ninguém passa pela vida sem marcas. A maior parte do tempo, existimos com a mesma fragilidade com que um insecto atravessa a estrada, devagar, com uma dose de fé e outra de ignorância. O ritmo lento aumenta a exposição ao perigo mas também permite apreciar o caminho e desviar obstáculos. É porque somos pequenos que o tempo é grande. Ainda assim, o tamanho das coisas é relativo e subjectivo. O que nos engrandece? Quanto cabe em nós?

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