Deitada, as mãos no peito e a rosa na mão. Um limoeiro carregado de amarelo espreita-te pela janela. A luz envolve-te, suave e quente, neste dia frio. Foi hoje que partiste. Foi hoje que me sussurraste ao ouvido Teresa e eu respondi em voz alta Já vou, sem saber que eras tu. Na morte trato-te por tu. Dediquei-te um ano da minha vida, quando tu já não podias. Dancei por ti e contigo, enquanto o corpo pode. Procurei um lugar onde nos pudéssemos encontrar, algures a meio caminho da consciência. Quando se torna fácil esquecer alguém, quis lembrar-te.
Fica-se de pé e não se come, como que para estar mais perto. A cada momento vamos percebendo qual o lugar a ocupar. Os minutos passam lentos ao som do sino que evoca a realidade. Qualquer som quase consegue perturbar a borbulha de silêncio e melodia doce que envolve o teu corpo.
Quais foram as tuas maiores alegrias nesta vida? As tuas principais conquistas e os teus pensamentos mais sombrios? O que significou para ti ser mulher? Quantos dos meus traços são os teus traços? Traços fisionómicos, traços de carácter, traços que reconheço na maioria dos presentes. Outros aparecem como peças perdidas do meu puzzle, entram e deixam rosas no silêncio. Hoje é o dia de cruzar olhares com os vivos e reconhecer tudo o quanto partilhamos, muito mais do que matéria.
Agora estás mais perto do centro da Terra e um outro limoeiro vive perto. Agora continua a ser a vez de cada um de nós descobrir e honrar, a cada dia que passa, o motivo pelo qual ainda respira. O dia em que o meu pai viu partir a sua mãe, é o dia em que o amor se mediu em rosas.